O espaço, para ser público, precisa ser conquistado pelas pessoas. Conquistar significa ocupar. E essa ocupação (ou apropriação), além de dar um novo significado aos locais, cria uma relação de pertencimento, aproxima as pessoas e estabelece novas propostas de uso e exploração desses espaços, especialmente pelas crianças.
Essas são algumas das reflexões feitas pelo geógrafo e Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia Marcelo Faria durante a primeira edição deste semestre do projeto Roda de Pais, realizado pela Lua Nova no último dia 14 de agosto, para debater temas importantes e instigantes sobre infância, entre pais, educadores e outros interessados.
Em sua explanação, Marcelo Faria destacou o que ocorreu na cidade colombiana de Medelin, antes um polo de criminalidade e tráfico de drogas, hoje um centro urbano plenamente vivenciado pela população: “O que a Prefeitura fez foi criar condições para que a cidade fosse ocupada pelas pessoas. Alargou calçadas, criou praças, modificou o plano de tráfego de veículos para propiciar mais mobilidade. Não foi preciso investir tanto em segurança, por exemplo. Com a ocupação das pessoas, a cidade renasceu. Hoje, Medelin convive com índices de criminalidade 78% menores do que tinha”.
Mesmo reconhecendo que “está muito difícil amar o mundo”, por mazelas como catástrofes ambientais, atropelos institucionais, atos de violência e preconceito, Marcelo diz que cabe às pessoas fazerem a sua parte, não esperar tudo do Estado. Na sua visão, o significado de “público” não tem nada a ver com “estatal”.
- Estamos vivendo o abandono do espaço público. E o significado de “público” está no uso que as pessoas podem dar a determinado espaço. Claro, o Estado tem responsabilidades, como garantir segurança, iluminação, infraestrutura... Mas quem determina o uso dos espaços são as pessoas. Nós devemos ter responsabilidade para conosco e para com as nossas crianças. Como adultos, nós acabamos restringindo a expressão pública das crianças. Isso está errado! Como pais e educadores, temos que dar conta de apresentar o mundo para elas”, observa Marcelo Faria.
Sem buscar alternativas nas ruas, segundo o geógrafo, os adultos e as crianças se voltam para a cultura do celular. “O mundo está se reduzindo a um aparelho celular”, pondera. Nesta “cultura da solidão”, as pessoas interagem pouco, e a infância, com toda a sua riqueza e espontaneidade, acaba se reduzindo também a uma relação virtual. “Os adultos relutam em oferecer bons momentos para suas crianças. Estamos cada vez mais propensos aos maus momentos. Isso precisa mudar”.